O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação para zelar pela integridade da informação que molda o debate público. O objetivo é oferecer à audiência uma compreensão clara e confiável dos acontecimentos e contribuir para a integridade do ambiente digital e para uma sociedade mais bem informada e resiliente à desinformação e a golpes e fraudes virtuais.
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Política

Investigado por: 12/12/2025

Após ingresso no Brics, Etiópia amplia produção de trigo, mas segue dependente de importações

Política
Crescimento agrícola tem avançado com apoio de novos parceiros, mas o país ainda compra grãos dos Estados Unidos e da União Europeia, segundo dados oficiais.

Uma postagem nas redes sociais afirma que a Etiópia não precisa comprar trigo da Europa e dos Estados Unidos pela primeira vez desde 1960 e que se tornou autossuficiente na produção do cereal após a entrada do país no Brics, em janeiro de 2024. A publicação, no entanto, mistura fatos com informações falsas e descontextualizadas. A Etiópia segue mantendo relações comerciais de produtos agrícolas com os EUA e a União Europeia, segundo dados oficiais.

De acordo com relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), a previsão é de que a produção de trigo da Etiópia chegue a 6,5 milhões de toneladas no ano agrícola de 2025/26, impulsionada por melhores rendimentos e pela expansão das áreas agrícolas irrigadas. No mesmo período, projeta-se que as importações de trigo diminuam 24%, para 1,3 milhão de toneladas. O documento também aponta, na página 17, que os Estados Unidos seguem sendo a principal fonte de sorgo, um tipo de grão, destinado à ajuda alimentar na Etiópia.

Já uma tabela da Diretoria-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural da União Europeia mostra que as exportações de trigo comum da União Europeia para a Etiópia caíram nos últimos anos, de 111.840 toneladas em 2021-22 para apenas 12 toneladas em 2024-2025, mas voltaram a subir em 2025-2026, com um registro de 52.920 toneladas.

Consultada pelo Comprova, a conselheira do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Mato Grosso do Sul (Crea-MS), Daniele Marques, detalhou a produção agrícola do país e esclareceu que a Etiópia tem como principais aliados, nas relações comerciais, países como Turquia, Rússia e Ucrânia, que fazem parte da Europa, mas não da União Europeia. Ela ainda afirmou que o país não é autossuficiente na produção de trigo.

“A Etiópia ainda não é autossuficiente. Ela vem tomando uma proporção de desenvolvimento dessa cultura dentro do país, mas ela não é autossuficiente. Os maiores fornecedores históricos não estão nem perto de ser os Estados Unidos. Muito pelo contrário, eles são Turquia, Rússia e Ucrânia”, esclareceu.

Daniele, que também é coordenadora da câmara especializada de agronomia do Crea-MS, detalhou que a Etiópia é a maior produtora de trigo do leste africano, com cerca de 1,95 milhão de hectares cultivados.

O autor da postagem verificada também compartilhou o vídeo de uma página que afirma que o país africano atingiu “recordes de plantação de trigo”, mas sem mencionar autossuficiência ou o término das relações entre a Etiópia, a União Europeia e os Estados Unidos.

Versões das autoridades

Autoridades etíopes afirmaram, recentemente, que o país se tornou o maior produtor de trigo da África. Em 8 de junho, o primeiro-ministro Abiy Ahmed disse que a Etiópia superou a produção do Egito três vezes, de acordo com a Agência de Notícias da Etiópia. Segundo ele, o sucesso pode ser verificado de forma independente por meio de imagens de satélite, que evidenciam a “vasta expansão das terras cultivadas” e indicam um aumento significativo nos rendimentos projetados de trigo.

Já em abril, o embaixador Leulseged Tadese Abebe celebrou: “Hoje, posso dizer com orgulho que nos tornamos o maior exportador de trigo da África”, afirmou, de acordo com entrevista publicada pela equipe de comunicação do BRICS.

No entanto, uma análise da revista The Economist, em março, questionou os dados oficiais do governo. Conforme a reportagem, o gabinete do primeiro-ministro alega que a Etiópia produziu 15,1 milhões de toneladas de trigo na safra de 2022-23, subindo para 23 milhões no ano seguinte, tornando-se o nono maior produtor do mundo.

A publicação aponta que, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento, com base “em seus próprios dados e análises de suas operações no país”, o banco estima que a Etiópia produziu 7,5 milhões de toneladas de trigo na safra de 2023-24.

“Isso é mais do que os 4,8 milhões produzidos em 2017-18, mas ainda muito longe dos 15,1 milhões alardeados por Abiy Ahmed”, afirma o texto. No entanto, um artigo do Instituto de Assuntos Exteriores da Etiópia questiona a reportagem do The Economist e as metodologias usadas pelos órgãos independentes utilizados na pesquisa, como a possibilidade das análises por satélite distorcerem os resultados.

Maquinário etíope

A publicação verificada ainda afirma que a Etiópia teve acesso a máquinas agrícolas chinesas de primeiro mundo, após a entrada do país no Brics. Daniele explica que os dois países mantêm relações que envolvendo a comercialização de maquinário. “Os dois países estão dentro do Brics, então eles conseguem fazer essa relação comercial de uma forma mais harmoniosa e fluida. E aí, essas máquinas entram ajudando, principalmente, a alcançar essas projeções para que a Etiópia consiga fazer essas exportações e alcançar os patamares de projeção de melhoria de safra dentro das suas lavouras.”

O vídeo da postagem também mostra máquinas agrícolas da fabricante alemã Claas, representada na Etiópia pela concessionária Kaleb Services Farmer’s House PLC. O Comprova tentou contato com a Claas, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A postagem verificada foi criada por um influenciador que se identifica como apoiador do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em suas últimas publicações, ele destacou medidas positivas de países com governos de esquerda, como a China, e fez críticas a figuras de direita, como Donald Trump, Tarcísio de Freitas e Michelle Bolsonaro. O Comprova não conseguiu entrar em contato com o autor da postagem.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A postagem apresenta descontextualização e falsas conexões, pois utiliza um vídeo verídico de uma plantação da Etiópia para corroborar a informação de que o país é autossuficiente na produção de trigo e de que deixou de importar o produto dos EUA e da União Europeia, o que não é verdadeiro. Além disso, o autor não apresentou a origem das informações na publicação, uma tática clássica de desinformadores. A publicação original, compartilhada pelo influenciador, não menciona que a Etiópia se tornou autossuficiente na produção de trigo.

Fontes que consultamos: A conselheira e especialista em agronomia Daniele Marques, Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), tabela da Diretoria-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural da União Europeia, Agência de Notícias da Etiópia, entrevista publicada pelo site do Brics, The Economist e artigo do Instituto de Assuntos Exteriores da Etiópia.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e em aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais, e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já fez outras checagens sobre agronegócio, explicando o impacto dos juros altos no financiamento rural e mostrando ser falso que alimentos com ‘selo da rã’ sejam sintéticos e produzidos por Bill Gates.

Notas da comunidade: Não havia notas da comunidade associadas ao post até o momento desta publicação.

Golpes virtuais

Investigado por: 11/12/2025

Entenda o que é o golpe da CNH Social e saiba como se proteger

Golpes virtuais
Criminosos têm se aproveitado do interesse pelo programa CNH Social para criar sites falsos, enviar mensagens enganosas e pressionar usuários a fornecer dados pessoais ou pagar taxas inexistentes. O Comprova mostra como a fraude opera, quais sinais ajudam a identificá-la e o que fazer para evitar cair em golpes desse tipo.

Golpe da CNH Social

A CNH Social, iniciativa do governo federal, entrou em vigor em agosto, por meio da Lei 15.153/2025. A medida provocou uma alteração no Código de Trânsito Brasileiro, permitindo que recursos arrecadados com multas de trânsito sejam utilizados no custeio da habilitação de condutores de baixa renda. Desde então, o nome do programa tem sido usado por criminosos que tentam se aproveitar dos interessados na iniciativa para enganar pessoas e roubar dados pessoais e dinheiro. Por conta disso, o Comprova explica como essas fraudes têm ocorrido e oferece dicas para se proteger.

Como os golpistas abordam as pessoas?

Os golpes envolvendo a CNH Social vêm sendo identificados pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) e pelos Departamentos Estaduais de Trânsito (Detrans) de diferentes estados. A ação dos criminosos começa com a criação de páginas falsas que imitam o portal Gov.br, o Detran e o próprio programa CNH Social, reproduzindo cores, logotipos e estruturas semelhantes às oficiais. A partir dessas páginas, os golpistas buscam obter dados pessoais e dinheiro das vítimas.

As abordagens costumam surgir por meio de mensagens de WhatsApp, SMS, e-mail ou anúncios nas redes sociais que prometem inscrição imediata e gratuita na CNH Social. Para dar aparência de legitimidade, os golpistas usam linguagem institucional e apresentam links que levam a sites falsificados. Esses dados e valores são utilizados para estelionato, clonagem de identidade e outras fraudes posteriores.

Ao Comprova, o advogado Carlos Augusto Pena da Motta Leal, especialista em direito digital e proteção de dados, explicou que os criminosos exploram o desconhecimento do cidadão sobre os procedimentos oficiais. “Eles criam páginas falsas que simulam o ambiente da CNH Digital e induzem o usuário a fornecer dados pessoais, códigos de verificação ou a realizar pagamentos via Pix. Também é comum a criação de perfis falsos que oferecem ‘facilidades’ para emissão ou reativação da CNH”, afirma.

Esse tipo de golpe manipula emocionalmente a vítima com promessas e senso de urgência.

Como se proteger?

Para não cair nos golpes envolvendo a CNH Social e a CNH Digital, é essencial observar alguns sinais comuns utilizados por criminosos. Um dos principais é a pressão por urgência, com mensagens que afirmam que a vaga precisa ser confirmada “imediatamente” ou que a CNH será bloqueada caso o usuário não siga as instruções. Outro alerta é o pedido de pagamento antecipado, geralmente via Pix para contas de pessoas físicas, prática que não ocorre em nenhum serviço oficial relacionado à habilitação.

Também é fundamental desconfiar de links suspeitos, especialmente aqueles que não pertencem a domínios oficiais do governo. Sites do governo federal terminam exclusivamente em .gov.br, enquanto as páginas do governo do Paraná, por exemplo, utilizam .pr.gov.br. Domínios como govcnh.org e cnhssocial.org não têm qualquer relação com o programa CNH Social ou com órgãos públicos. Além disso, órgãos governamentais nunca solicitam senhas, códigos de autenticação ou dados sensíveis por meio de mensagens enviadas diretamente ao cidadão.

Em caso de dúvida, a orientação é acessar apenas o aplicativo oficial da Carteira Digital de Trânsito (CDT) ou os canais do Detran. Evite clicar em links recebidos de terceiros e, sempre que possível, digite manualmente o endereço do órgão no navegador.

A Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) disponibiliza uma ferramenta para validar a autenticidade da CNH, que pode ser utilizada por qualquer cidadão no portal oficial do órgão. Segundo a Senatran, essa funcionalidade é uma forma rápida e segura de verificar se o documento é legítimo e regular, contribuindo para reduzir o risco de fraudes.

Ao Comprova, o Ministério dos Transportes explicou que trabalha em parceria com os Detrans de todo o país, utilizando sistemas avançados de reconhecimento, como a biometria para identificação de candidatos, e integração de dados entre autoescolas e órgãos de trânsito. Essas medidas visam fortalecer a segurança dos processos de habilitação e reduzir a possibilidade de golpes que se aproveitam da falta de familiaridade do cidadão com o funcionamento dos serviços oficiais.

A quem denunciar?

As vítimas devem registrar um boletim de ocorrência sempre que identificarem tentativa ou consumação do golpe. A recomendação é usar a Delegacia de Crimes Cibernéticos, quando houver essa estrutura no Estado, ou a Delegacia Eletrônica, que também recebe denúncias de estelionato digital. O registro ajuda as autoridades a rastrear sites, números de telefone e contas utilizados pelos criminosos.

Também é importante comunicar ao Detran local o uso indevido do nome da instituição e do programa CNH Social. No caso do Paraná, o próprio Detran-PR orienta que todas as suspeitas sejam reportadas pelos canais oficiais, já que o órgão mantém monitoramento ativo e registra ocorrências para evitar novas vítimas.

Perfis e páginas falsas encontrados nas redes sociais devem ser denunciados diretamente às plataformas, que podem remover o conteúdo e bloquear contas envolvidas em fraudes.

Se houver pagamento financeiro, a orientação é informar imediatamente o banco ou instituição responsável pela transação para tentar o bloqueio do Pix ou a recuperação dos valores, conforme prevê o Mecanismo Especial de Devolução (MED) do Banco Central. Dependendo do caso, o consumidor também pode procurar o Procon para registrar uma reclamação e receber orientação adicional.

Por que as pessoas podem ter acreditado?

Os golpistas utilizam uma combinação de técnicas de manipulação para convencer as vítimas. A primeira é a imitação de fontes confiáveis, com sites e perfis que reproduzem visualmente o Gov.br, o Detran e a Senatran, incluindo nomes, cores, selos falsos de segurança e domínios parecidos com os oficiais, o que cria a sensação de que o usuário está em um ambiente legítimo.

A isso soma-se a manipulação emocional, por meio de mensagens que apelam à urgência, como “últimos dias para se inscrever” ou “evite o bloqueio da CNH”, pressionando o cidadão a agir rapidamente e sem verificar as informações. Os golpistas também recorrem ao ocultamento de autoria, operando anonimamente para dificultar o rastreamento da fraude. Além disso, se aproveitam de percepções comuns sobre programas sociais, como a ideia de que são oportunidades simples, gratuitas e amplamente acessíveis.

Toda a operação é estruturada com base em engenharia social, isto é, na persuasão por meio de elementos plausíveis e visualmente familiares que induzem o usuário a fornecer dados pessoais, códigos de segurança ou valores via Pix. Além disso, o golpe mistura informações reais, como a existência do programa e seus critérios sociais, com falsas facilidades, criando uma narrativa que parece coerente justamente por ser parcialmente verdadeira.

Desconfiou que é golpe? O Comprova pode ajudar a verificar. O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e em aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, eleições e possíveis golpes digitais, e abre verificações para os conteúdos duvidosos que mais viralizam. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova já detalhou diversas modalidades de golpes digitais que se apoiam em técnicas semelhantes às observadas no golpe da CNH Social. Em outras verificações, o projeto mostrou como criminosos utilizam phishing, engenharia social, clonagem de sites e falsas páginas de serviços públicos para capturar dados pessoais e induzir pagamentos. Também demonstrou como golpistas exploram emoções, senso de urgência, ofertas aparentemente vantajosas e o desconhecimento sobre processos oficiais para levar vítimas a agir impulsivamente, especialmente em situações que envolvem Pix, boletos e links compartilhados por aplicativos de mensagens.

O Comprova já alertou ainda para golpes que utilizam comunicação fraudulenta imitando órgãos públicos, pedidos de “taxas” inexistentes e tentativas de simular a interface de sistemas governamentais, como ocorreu no golpe da falsa taxa da alfândega e em sites que se passam por plataformas federais de serviços. Nessas apurações, o projeto explicou os principais sinais de falsificação, os riscos de fornecer dados sensíveis e a importância de sempre verificar a autenticidade de domínios e canais oficiais antes de seguir qualquer instrução recebida pela internet.

Política

Investigado por: 10/12/2025

Áudio de Moraes sobre proibir linguajar evangélico foi feito por IA

Política
Conteúdo foi detectado por duas ferramentas de verificação e um especialista. Perfil que compartilhou áudio já foi checado em outras ocasiões.

Foi criado com inteligência artificial (IA) um áudio em que uma voz parecida com a do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes critica o “vocabulário golpista dos evangélicos” e promete proibir falas como “senhor dos senhores, senhor dos exércitos, único Deus e único que é digno”.

Não há registro público de que o ministro tenha feito esse tipo de afirmação. O Comprova procurou notícias sobre o assunto, mas não chegou a nenhum resultado.

O consultor em inteligência artificial Pedro Burgos destacou alguns elementos que indicam a adulteração no áudio. Por exemplo, o fim das frases no áudio nem sempre é pontuado, o que é “um problema comum de modelos geradores de áudio”, segundo Burgos.

O ritmo da fala e a ausência de pausas para respirar também são indícios de uso de IA. “Tem o problema que a acústica da voz fake é meio constante, como se estivesse no vácuo, não tem algo como um eco de uma sala”, acrescentou Burgos.

O conteúdo foi submetido a uma plataforma de detecção de conteúdos gerados por IA chamada Hive Moderation, que indicou uma pontuação agregada de 33,8% de chances de o conteúdo ter sido criado com inteligência artificial. Outra ferramenta, a Hiya/Invid, apontou 93% de chances de o conteúdo ter sido gerado com IA.

Outro forte indício de que o conteúdo não é verdadeiro é que foi publicado inicialmente por um perfil no Instagram que costuma criar áudios falsos de personalidades e políticos.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O conteúdo foi publicado inicialmente por uma conta que frequentemente divulga áudios falsos. O autor foi verificado pelo Comprova em outras ocasiões (aqui). Ele já havia manipulado a voz de Moraes em outra postagem, como mostrou uma checagem do Estadão Verifica (aqui).

Outras pessoas, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o jornalista William Bonner também foram alvo de falsificações (aqui e aqui). O modo de atuação é sempre o mesmo: o autor das postagens se filma enquanto reproduz os áudios supostamente “vazados” no próprio celular. Ele costuma fazer críticas à personalidade usada.

Depois da publicação feita por esse perfil no dia 4 de dezembro, outras contas destinadas a compartilhar conteúdos de direita divulgaram o conteúdo. A com maior alcance atingiu 380 mil curtidas no Instagram até a publicação dessa checagem. Nos comentários, tanto do vídeo original quanto do vídeo republicado, muitos usuários da rede acreditaram no áudio falso.

O Comprova tentou contato com o primeiro perfil a divulgar o áudio falso, mas a conta não permite novas solicitações de contato. Outro responsável pela disseminação do conteúdo foi procurado, mas não respondeu.

Por que as pessoas podem ter acreditado

O áudio checado foi submetido a técnicas para mascarar possíveis erros que podem indicar o uso de IA. Isso pode ter contribuído para que as pessoas acreditassem na fala. Burgos destacou que, primeiramente, o áudio parece uma gravação. Ele foi criado com IA, mas no vídeo que o divulgou, ele parece ter sido gravado com um microfone.

“Não parece ser o áudio original. Tem algo que parece um corte simulado, como se o microfone se afastasse. Isso dá um tom mais genuíno”, explicou.

Outro ponto destacado por Burgos é o uso de uma música constante, que esconde pontos que poderiam entregar que o áudio é sintético.

Esses componentes foram atrelados a uma figura política que está sempre no centro de teorias da conspiração, o ministro Alexandre de Moraes. Isso pode ter inflado o alcance e o crédito do conteúdo, principalmente entre comunidades que rejeitam a figura do magistrado.

Fontes que consultamos: O Comprova submeteu o vídeo a duas ferramentas de detecção de IA, Hive Moderation e Hiya, da plataforma Invid. Também procuramos o especialista Pedro Burgos e a assessoria de imprensa do STF, que não respondeu à tentativa de contato. Procuramos notícias sobre o conteúdo do áudio, mas nenhuma foi encontrada, o que evidencia que o conteúdo foi inventado.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e em aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais, e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já fez checagens sobre vídeos feitos com IA. Um deles mostrava um vídeo falso de um estudante atacando Lula e Alexandre de Moraes. Outro conteúdo mostrava um áudio atribuído a Haddad sobre “compra de apoio”, mas o Comprova mostrou que não há evidências de que seja real.

Notas da comunidade: Não há notas da comunidade para esse conteúdo.

Política

Investigado por: 04/12/2025

Não foi a mudança de dono do Nubank para o Uruguai que evitou imposto na venda de ações

Política
Ganho de capital de David Vélez não foi taxado no Brasil porque a empresa controladora do grupo, registrada nas Ilhas Cayman, não é brasileira.

A venda de ações do Nubank por parte de David Vélez, um dos fundadores da empresa, tem gerado desinformação nas redes sociais. A maioria dos posts alega que o empresário teria economizado R$ 500 milhões em impostos no Brasil ao se mudar para o Uruguai, o que não é inteiramente verdadeiro.

A última venda de ações feita por Vélez ocorreu em agosto de 2025, quando o empresário levantou US$ 432 milhões (R$ 2,3 bilhões pela cotação da época), de acordo com documentos enviados à Securities Exchange Commission (SEC), que regula o mercado de ações nos Estados Unidos, onde a fintech é listada.

Desde então, têm surgido posts nas redes sociais alegando que, como o empresário mora no Uruguai desde 2022, deixou de pagar o equivalente a 22,5% de imposto sobre o ganho de capital no Brasil, uma vez que, no país onde ele vive atualmente, haveria isenção sobre rendas obtidas no exterior.

A discussão mistura fatos verdadeiros a conclusões incompletas. O ponto central não se limita ao local onde o fundador da fintech mora hoje, mas também abrange a estrutura societária do Nubank e a natureza jurídica da empresa cujas ações foram vendidas.

Ao Comprova, o advogado Marco Túlio Ribeiro Fialho, especialista em Direito Público e Tributário, destacou que, de fato, Vélez não pagou imposto no Brasil somente porque mora no Uruguai, mas isso ocorreu porque as ações vendidas não eram de uma empresa brasileira.

“O fundador vendeu ações da Nu Holdings Ltd., holding do grupo Nubank registrada nas Ilhas Cayman, e não ações de uma S.A. brasileira. Como se trata de uma empresa estrangeira e o vendedor não é residente, essa operação não é tributada pelo Brasil”, explicou.

Ainda segundo o advogado, se a holding fosse brasileira, mesmo vivendo no Uruguai, o empresário seria tributado no Brasil. “Não foi a mudança para o Uruguai que gerou a economia, mas sim o fato da empresa controladora não estar sediada no Brasil”.

Ribeiro Fialho afirmou que o valor aplicado à transação realmente é de 22,5%, teto aplicável no Brasil para ganho de alto valor. Nesse caso, se o empresário fosse residente fiscal no Brasil e tivesse vendido ações de uma empresa brasileira, o ganho de capital seria tributado progressivamente, até a alíquota máxima de 22,5%.

É dessa conta que surge o número citado nas redes:

  • Montante vendido: cerca de R$ 2,3 bilhões
  • Alíquota máxima de ganho de capital: 22,5%
  • Imposto potencial: cerca de R$ 500 milhões

Mas, como já dito, como a operação envolveu ações de uma holding estrangeira, a alíquota brasileira não se aplica.

Mudar para outro país exime do pagamento de imposto no Brasil?

De acordo com o especialista ouvido pelo Comprova, mudar de país não elimina impostos devidos ao Brasil quando:

  • O ganho ocorre em ativo localizado no Brasil.
  • A renda tem fonte brasileira.
  • O contribuinte não entrega a declaração de saída definitiva.

O ponto crucial deste caso não é a mudança de país, e sim o fato da empresa cujas ações foram vendidas ser estrangeira (Cayman) e do Uruguai adotar um sistema de tributação territorial, que normalmente não alcança ganhos de capital obtidos fora do país.

O Nubank foi procurado por e-mail, mas não respondeu aos questionamentos do Comprova.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O criador da publicação se apresenta como um empreendedor e investidor e publica posts sobre o mercado financeiro. Em sua conta no X, tem 6,2 mil seguidores. O post sobre a negociação feita por Vélez teve 799,2 mil visualizações, 9 mil curtidas, 506 compartilhamentos e 258 comentários até 3 de dezembro de 2025.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação usa fatos reais, como a negociação feita pelo empresário e a mudança de endereço dele, mas descontextualiza o motivo real que levou ao não pagamento de R$ 500 milhões em impostos. É uma tática frequentemente usada por desinformadores, que costumam apresentar uma informação, imagem ou vídeo verídico, mas sem o contexto original.

Os números citados também são impactantes, o que pode levar a conclusões precipitadas no momento em que as pessoas podem acabar ficando indignadas pelo fato do montante tão vultoso não ser arrecadado pelos cofres públicos.

Fontes que consultamos: Reportagens e vídeos sobre o tema e o advogado Marco Túlio Ribeiro Fialho.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e em aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais, e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O sistema tributário no Brasil é alvo frequente de desinformação nas redes sociais. O Comprova já mostrou que a norma que obriga fintechs a informar Receita sobre operações acima de R$ 2 mil já existe para bancos e não tributa Pix e explicou a proposta de tributar dividendos feita pelo governo federal.

Notas da comunidade: Não foram adicionadas notas da comunidade à publicação feita no X.

Política

Investigado por: 28/11/2025

Escritório da mulher de Moraes foi contratado pelo Banco Master, mas não há indícios de envolvimento em fraude financeira

Política
Post viral também desinforma ao dizer que ministro teria tirado do ar publicações mencionando Viviane Barci de Moraes.

Não é verdade que Viviane Barci de Moraes, mulher do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, tenha envolvimento no escândalo do Banco Master, ou que o magistrado tenha mandado derrubar posts associando o nome da esposa ao da instituição financeira, como alega um perfil no Instagram.

O escritório de advocacia Barci de Moraes, onde atuam Viviane e dois filhos do casal, como publicou O Globo em abril deste ano, foi contratado pelo banco para representá-lo judicialmente. “De acordo com fontes ligadas ao banco, Viviane representa o Master em algumas poucas ações”, diz a reportagem.

O fato de ela ser advogada da instituição não significa que tenha envolvimento no escândalo envolvendo o Master, liquidado pelo Banco Central em 18 de novembro, após a Polícia Federal deflagrar a Operação Compliance Zero, com o objetivo de “combater a emissão de títulos de crédito falsos por instituições financeiras que integram o Sistema Financeiro Nacional”.

O dono e presidente do Master, Daniel Vorcaro, foi preso em 17 de novembro, e o caso deve ser a maior operação de resgate da história do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), com indenizações aos clientes do Master que chegam a R$ 41 bilhões.

Além de o post desinformar ao afirmar que Viviane teria relação com o escândalo, ele também mente ao dizer que Moraes mandou tirar do ar publicações mencionando sua mulher e o banco. Uma busca simples no Google, que pode ser feita por qualquer pessoa, pelo nome de Viviane e do Master, traz como resultado diversas publicações nas principais plataformas sociais e YouTube – muitas com a mesma desinformação do post verificado aqui, de que ela teria envolvimento na fraude.

O Comprova pesquisou no site do STF e encontrou 31 processos em que Viviane consta como uma das advogadas, mas em nenhum deles foi identificada uma ligação direta com o Master.

A reportagem consultou o STF, que afirmou “não ter informação, até o momento” sobre qualquer pedido de Moraes para tirar posts relacionados ao caso de circulação.

A Polícia Federal e o Banco Central também foram contatados, mas não responderam até a publicação deste texto.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O post verificado aqui foi publicado por um perfil no Instagram com 263 mil seguidores, alinhado à direita. A página publica conteúdos contrários a figuras como Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin, além de, como já afirmado acima, repreender Moraes.

Muitos posts são favoráveis a Bolsonaro e seus filhos e alguns trazem vídeos do guru do bolsonarismo Olavo de Carvalho, morto em 2022.

O Comprova tentou contato com o perfil, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação verificada se aproveita do viés de confirmação, quando torna-se mais fácil a pessoa não duvidar de algo em que ela já acredita. Pessoas que são contra as medidas de Alexandre de Moraes têm mais facilidade para não questionar o conteúdo que o mostra supostamente adotando uma medida judicial em favor da sua família.

O viés de confirmação também é reforçado na legenda do post, em que o autor escreve “Entenda a razão pela qual prenderam Bolsonaro!”, sugerindo que a ação de Moraes seria para encobrir a suposta ligação de Viviane com o Master. É possível ver isso a partir de comentários falando em “cortina de fumaça” e “O povo já sabe da roubalheira da esposa dele, não adianta esconder“.

A afirmação de que Bolsonaro teria sido preso para desviar o foco do suposto envolvimento de Viviane no caso do Master viralizou em post do aliado do ex-presidente e pastor Silas Malafaia de 23 de novembro, antes da publicação verificada aqui.

Além disso, a postagem imita a identidade visual de um veículo de informações para conferir credibilidade ao boato, mas não cita a fonte ou a origem das informações.

Fontes que consultamos: Site do governo federal, do Banco Central e do STF, diferentes redes sociais como Instagram, Facebook e TikTok e reportagens sobre o tema.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e em aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais, e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Neste ano mesmo, o Comprova verificou outro post dizendo enganosamente que Moraes teria censurado posts nas redes sociais. O ministro é alvo frequente dos desinformadores, que já inventaram que ele teria sido condenado pela Justiça dos Estados Unidos e que ele teria ordenado a troca de urnas na cidade de São Paulo para favorecer candidato da esquerda.

Comprova Explica

Investigado por: 27/11/2025

Novo mecanismo do Pix reforça combate a golpes e não afeta sigilo ou rotina dos usuários

Comprova Explica
MED 2.0 rastreia apenas transações suspeitas após a contestação da vítima e não tem relação com a Receita Federal, o monitoramento fiscal ou a criação de impostos.

Conteúdo analisado: O Comprova analisou publicações no X que alegam que “toda e qualquer transação” realizada via Pix passará a ser rastreada pelo Banco Central. Uma dessas postagens é um vídeo da GloboNews, editado por um perfil de notícias, de direita, com 430 mil seguidores, no qual a comentarista Rosana Cerqueira afirma, de fato, que “toda e qualquer transferência via Pix será monitorada”. No telejornal, porém, a frase aparece em uma explicação sobre golpes e o funcionamento do Mecanismo Especial de Devolução (MED 2.0), que prevê o acompanhamento do caminho do dinheiro apenas após uma contestação formal da vítima.

O recorte viral, porém, retira o trecho do contexto original, que era exclusivamente sobre fraudes já em andamento e sobre o rastreamento limitado ao caso denunciado, e o apresenta como se o Banco Central fosse monitorar todas as operações do Pix de maneira permanente. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL) compartilhou o material editado e escreveu que “um tal de Nikolas aí então tinha razão”, sugerindo que as mudanças anunciadas agora confirmam o que ele afirmou em um vídeo gravado em janeiro de 2025, quando a Receita Federal publicou a Instrução Normativa nº 2.219/2024.

Comprova Explica: Publicações voltaram a associar o Pix à ideia de vigilância fiscal e de cobrança de impostos, repetindo argumentos já desmentidos no início do ano. Por isso, este Comprova Explica se concentra em responder quatro perguntas centrais: o que foi a norma da Receita que gerou polêmica em janeiro; o que Nikolas disse na época; o que está mudando agora com o Banco Central; e se é correto afirmar que o anúncio atual confirma as previsões do deputado.

O que foi a Instrução Normativa e o que ela mudava em relação ao Pix?

A Instrução Normativa nº 2.219/2024 foi publicada pela Receita Federal em setembro de 2024 e entrou em vigor em 1º de janeiro de 2025. O texto tinha como objetivo atualizar a chamada e-Financeira, sistema pelo qual instituições financeiras e de pagamento enviam, desde os anos 2000, informações consolidadas sobre operações de seus clientes para fins de prevenção a crimes financeiros, como lavagem de dinheiro.

Na prática, a norma ampliava o grupo de instituições obrigadas a prestar essas informações, incluindo bancos digitais, operadoras de cartão, carteiras eletrônicas e empresas que processam pagamentos, além de ajustar os valores mínimos que passariam a ser comunicados. Para pessoas físicas, seriam enviados à Receita apenas os valores totais movimentados no mês quando o montante superasse cinco mil reais; para pessoas jurídicas, a comunicação ocorreria a partir de quinze mil reais mensais.

Esses dados seriam sempre agregados, informados em forma de valores globais por cliente, sem identificação de cada transferência. O texto mantinha a proibição de incluir qualquer informação que indicasse a origem ou o destino dos recursos, como nomes, CPFs ou detalhes de transações específicas. Em entrevistas à época, a Receita Federal e especialistas ouvidos por veículos como o Estadão reafirmaram que a instrução não criava imposto, não taxava o Pix, não alterava o funcionamento do sistema de pagamento e não rompia o sigilo bancário.

Mesmo assim, o conteúdo da norma foi interpretado nas redes como uma tentativa de monitorar diariamente as movimentações dos usuários do Pix e de pavimentar uma suposta taxação sobre transferências. Diante da repercussão, o governo revogou a instrução em 15 de janeiro de 2025. Com isso, voltaram a valer as regras anteriores, mais restritas, que já previam o envio de informações consolidadas apenas por bancos tradicionais, com limites mais baixos, mas sem qualquer acesso individualizado a extratos ou a detalhes de Pix.

Em agosto, a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal em parceria com o Ministério Público de São Paulo, revelou como o crime organizado utilizou brechas na fiscalização para lavar dinheiro ilícito por meio de fundos de investimento em fintechs. Com isso, a Receita voltou a ampliar o dever de informar transferências. A medida está em vigor atualmente.

O que Nikolas Ferreira afirmou em janeiro de 2025?

No vídeo publicado em suas redes no início de janeiro, Nikolas Ferreira afirmou que o “governo Lula vai monitorar seus gastos com cartão de crédito e Pix” e que qualquer pessoa que movimentasse mais de R$ 5 mil por mês passaria a “entrar na mira da Receita”. Ele citou exemplos de trabalhadores informais, como ambulantes, motoristas de aplicativo e entregadores, e disse que essas pessoas seriam tratadas como “grandes sonegadores”.

O deputado também sugeriu que a medida abriria caminho para a taxação do Pix, que haveria quebra de sigilo bancário e que microempreendedores individuais poderiam ser obrigados a pagar alíquotas de até 27,5% de Imposto de Renda, o que tornaria “impossível sobreviver”. Em outro trecho, afirmou que o objetivo das mudanças seria “arrecadar mais impostos” e que, diante da fiscalização, muitos brasileiros voltariam a usar apenas dinheiro vivo para não serem vigiados pelo governo.

À época, o Estadão Verifica classificou o vídeo como enganoso. A checagem destacou que a instrução da Receita não criava nenhum tributo, não permitia identificar remetentes e destinatários de Pix, não eliminava o sigilo bancário e não determinava, por si só, mudanças na forma como a Receita analisa obrigações de Imposto de Renda de pessoas físicas ou de microempreendedores. A confusão entre envio de dados agregados para fins de monitoramento de crimes financeiros e vigilância individual de usuários contribuiu para a polêmica que acabou levando à revogação da norma. Contatado por e-mail, o deputado não respondeu ao Comprova até a publicação deste Explica.

O que está mudando agora no Banco Central e o que é o MED 2.0?

O vídeo da comentarista Rosana Cerqueira, utilizado na postagem do deputado, não se referia à medida da Receita. Rosana falava da resolução BCB nº 493 e de um anúncio do Banco Central, divulgado em agosto de 2025, sobre o aprimoramento do Mecanismo Especial de Devolução do Pix, o MED. Criado para permitir a devolução de valores em casos de fraude ou falha operacional, o mecanismo ganhou uma nova versão, chamada MED 2.0, detalhada em nota à imprensa e em documentos técnicos do BC.

Pelo MED atual, os bancos já podem bloquear a conta que recebeu o Pix fraudulento, mas enfrentam dificuldade quando o dinheiro é rapidamente transferido para outras contas — estratégia comum entre golpistas, que usam várias camadas de “contas de passagem” para dificultar o retorno do valor original. O MED 2.0 cria um circuito obrigatório de rastreamento entre todas as instituições participantes do Pix, permitindo que, após a vítima registrar a contestação no aplicativo do banco, seja possível reconstruir o caminho do dinheiro, identificar contas usadas no golpe e tentar bloquear saldos remanescentes. Esse rastreamento só ocorre após a vítima acionar formalmente o mecanismo. O Banco Central não passa a monitorar transações rotineiras nem tem acesso à movimentação de usuários fora desses casos de fraude.

Em resposta por e-mail ao Comprova, o BC afirmou que o MED 2.0 “não altera o sigilo bancário”, “não modifica o funcionamento cotidiano do Pix” e “não tem qualquer relação com fiscalização tributária, Receita Federal ou cobrança de impostos”. O órgão esclareceu que o sistema serve exclusivamente para combater golpes, aumentar as chances de recuperação de valores e desestimular a atuação de criminosos que se aproveitam da velocidade do Pix. A implementação começa de forma facultativa em novembro de 2025 e se torna obrigatória para todas as instituições do Pix em fevereiro de 2026.

Como o vídeo da GloboNews foi usado para sustentar a ideia de que “toda transação será monitorada”, o Comprova transcreve abaixo o trecho completo da fala exibida no telejornal, para que o leitor possa verificar o contexto original:

“Por exemplo, neste caso, a pessoa faz uma compra nas redes sociais, na internet, paga pelo Pix, mas não recebe o produto e nunca mais consegue falar com a empresa. Neste caso, o dinheiro do Pix fica muito pouco tempo na conta bancária que recebe o Pix. Aí vem o golpe. Quando a pessoa pede a devolução no aplicativo do banco, o dinheiro já foi transferido para outra conta.”

No telejornal, Rosana descrevia exclusivamente o funcionamento do MED após um golpe ser reportado, e não o monitoramento permanente do Pix. O recorte que viralizou omite essa explicação e apresenta a frase como se se referisse ao uso comum do Pix, distorcendo o sentido da reportagem e dando a entender que todas as operações passariam a ser rastreadas, o que não corresponde ao texto da resolução, à nota oficial do BC ou ao funcionamento real do MED 2.0.

Há relação jurídica ou operacional entre a instrução da Receita e o mecanismo antifraude do Banco Central?

Para esclarecer as diferenças entre as duas medidas, o Comprova entrevistou Bruno Barbosa Miragem, professor de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do Núcleo de Estudos em Direito e Sistema Financeiro. O especialista afirmou que a instrução da Receita e a resolução do Banco Central tratam de problemas distintos e não têm conexão jurídica ou operacional.

Segundo Miragem, a instrução normativa, revogada e posteriormente reinstaurada, estabelece um dever de reportar ao governo, por meio da e-Financeira, informações agregadas sobre operações financeiras realizadas pelos clientes de instituições como bancos, seguradoras, operadoras de planos de previdência, fintechs e empresas de pagamento. A finalidade é permitir que o Estado acompanhe movimentações globais e identifique possíveis crimes financeiros cometidos pelos próprios usuários do sistema.

Já a nova resolução do Banco Central impõe às instituições financeiras e de pagamento um conjunto de deveres internos de monitoramento e de bloqueio de operações atípicas no âmbito do sistema de pagamento instantâneo, em especial o Pix. O objetivo é proteger os usuários de golpes e fraudes, evitando que sejam vítimas, exigindo que os bancos identifiquem padrões suspeitos, emitam alertas aos clientes e, em determinados casos, impeçam a conclusão de transferências arriscadas. Esse monitoramento é realizado nas instituições financeiras e não implica o envio de novas informações a órgãos de fiscalização.

“Isso (as declarações de Nikolas Ferreira) é absolutamente incorreto. São medidas com finalidades diferentes e procedimentos completamente distintos. Em síntese, a instrução normativa da Receita Federal, revogada, buscava prevenir e investigar crimes que podem ser cometidos pelos usuários do sistema financeiro, por seu intermédio, daí pretendendo dar conhecimento aos órgãos de Estado sobre as operações financeiras realizadas. A resolução do Banco Central visa proteger esses mesmos usuários de golpes e fraudes em expansão, impondo às instituições financeiras e de pagamento deveres de monitorar e prevenir essas operações internamente, sem necessidade de reportar novas informações a órgãos de fiscalização”, disse o professor.

As mudanças atuais significam que todas as transações via Pix serão rastreadas?

De acordo com o Banco Central, não. O órgão enfatizou, em resposta ao Comprova, que o MED 2.0 parte sempre de uma contestação feita pela vítima e que o rastreamento ocorre apenas nas transações suspeitas relacionadas a esse episódio. Não há monitoramento preventivo de todas as operações, nem acesso automático às informações sobre quem paga e quem recebe em cada Pix.

Isso significa que o usuário que utiliza o Pix no dia a dia, para pagar contas, transferir dinheiro a familiares ou receber o salário, não passa a ter suas transações acompanhadas pelo Banco Central devido ao novo mecanismo. O que muda é a chance de recuperar valores quando a pessoa cai em um golpe e aciona o sistema pelas vias oficiais.

As mudanças criam imposto ou abrem caminho para a tributação do Pix?

A Constituição Federal veda a cobrança de tributos sobre movimentações financeiras, e qualquer alteração nesse sentido exigiria uma emenda constitucional. Em janeiro, a própria Receita Federal chegou a divulgar uma nota afirmando que “não cobra e jamais vai cobrar impostos sobre transações feitas via Pix”. Agora, o Banco Central esclareceu que o MED 2.0 não tem nenhuma relação com a tributação, com a Receita ou com o monitoramento fiscal de pessoas físicas e jurídicas.

Ao associar o anúncio do mecanismo antifraude a um suposto plano de taxar o Pix ou de vigiar todas as transações, as publicações misturam informações de momentos distintos e atribuem à medida um alcance que ela não tem, segundo as respostas oficiais e a análise dos especialistas consultados.

Por que as pessoas podem ter acreditado?

A publicação analisada utiliza uma tática comum em casos de desinformação política: tirar eventos de contexto, isto é, usar fatos novos para dar a impressão de que previsões já refutadas teriam se concretizado. No caso, o deputado relaciona o anúncio do mecanismo antifraude do Pix (MED 2.0), feito pelo Banco Central, a uma instrução normativa da Receita Federal que já havia sido revogada, sugerindo que a previsão de “monitoramento e taxação do Pix” teria se confirmado. Isso constitui uma falsa equivalência: as medidas são de órgãos diferentes, têm propósitos distintos (um voltado à segurança contra fraudes, outro à fiscalização tributária) e não há relação operacional entre si.

Além disso, há manipulação emocional ao insinuar que o governo está ampliando a vigilância sobre o cidadão comum, apelando ao medo de perda de privacidade e ao receio de ser taxado injustamente. Tal narrativa, reforçada por cortes de vídeo e legendas sensacionalistas produzidas por perfis desinformativos, explora o viés de confirmação em públicos já desconfiados do governo ou críticos às políticas fiscais. A tática busca consolidar uma imagem de coerência e de “antevisão dos fatos” por parte do político, mesmo que os dados oficiais e os especialistas refutem essa interpretação.

Fontes consultadas: O Comprova consultou documentos oficiais, entrevistas com especialistas e checagens já publicadas por outros veículos. Entre as fontes, estão a Instrução Normativa nº 2.219/2024 e a nota da Receita Federal sobre sua revogação; a resolução BCB Nº 493, a nota do Banco Central “BC aprimora o Mecanismo Especial de Devolução do Pix”, de 28 de agosto de 2025, e os documentos técnicos do MED 2.0 disponibilizados no site da instituição (1, 2 e 3); entrevista com Bruno Barbosa Miragem, professor da UFRGS e integrante do Núcleo de Estudos em Direito e Sistema Financeiro e a checagem do Estadão Verifica sobre o vídeo de Nikolas Ferreira publicado em janeiro.

Por que o Comprova explicou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e em aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está gerando muitas dúvidas e desinformação, o Comprova Explica. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova já verificou outros conteúdos que exploravam desinformação sobre o Pix. Em setembro de 2025, o projeto explicou que uma norma direcionada a fintechs não criava imposto e apenas igualava obrigações já existentes para bancos tradicionais. Em julho, analisou rumores de que Donald Trump pretendia “taxar o Pix”. O Estadão Verifica também já checou o vídeo publicado por Nikolas Ferreira em janeiro e concluiu que as alegações de monitoramento individual, taxação do Pix e quebra de sigilo bancário eram enganosas.

Golpes virtuais

Investigado por: 27/11/2025

Como se proteger de golpes em sites fraudulentos

Golpes virtuais
Golpes virtuais dispararam com o uso de inteligência artificial, deepfakes e sites falsos altamente sofisticados. Com a chegada da Black Friday, eles tendem a se intensificar.

GOLPES VIRTUAIS

As fraudes em compras online atingiram um nível crítico em 2025. Dados da Serasa Experian mostram que as tentativas de golpe cresceram 22,9% no primeiro trimestre do ano em comparação com o mesmo período de 2024, o que reflete uma escalada preocupante. Segundo Thiago Guedes Pereira, CEO e fundador da DeServ Academy e da DeServ Segurança da Informação, esse avanço tem sido impulsionado pelo uso de inteligência artificial para criar sites falsos, deepfakes e campanhas enganosas em larga escala.

Como os golpistas abordam as pessoas

Golpistas que atuam em golpes de compras online costumam iniciar o contato por meio de técnicas de engenharia social. A estratégia consiste em criar situações que pressionam o usuário a agir rapidamente sem verificar a legitimidade da oferta. Links maliciosos frequentemente aparecem em anúncios patrocinados em redes sociais como Instagram, Facebook, em buscadores como o Google, além de mensagens enviadas por WhatsApp, SMS ou e-mail que imitam grandes varejistas, bancos e transportadoras. Outra tática crescente é o uso de deepfakes, vídeos e áudios criados com inteligência artificial para conferir credibilidade a promoções falsas que usam a imagem ou a voz de pessoas famosas.

| Exemplo de páginas e anúncios falsos usados por golpistas para enganar consumidores (Reprodução)

 

Que táticas eles usam para chamar a atenção

Os golpes online têm se tornado cada vez mais sofisticados ao explorar a pressa, a emoção e a distração do consumidor. Uma das estratégias mais comuns é o uso de ofertas com descontos muito acima do normal, como 70% ou 80%, com o objetivo de induzir compras impulsivas. Para reforçar essa sensação de urgência, os golpistas utilizam contadores regressivos, alertas de “últimas unidades” e mensagens que pressionam o usuário a agir rapidamente, reduzindo sua capacidade de análise.

Outra tática recorrente é a clonagem de sites. Criminosos criam páginas quase idênticas às de lojas confiáveis, alterando pequenos detalhes do endereço (URL), como a troca de letras, erros sutis de digitação ou o uso de domínios incomuns, como .shop, .live e .app. Essas alterações passam despercebidas para muitos consumidores. Além disso, essas páginas fraudulentas geralmente limitam as opções de pagamento a Pix ou boleto, pois esses métodos não permitem contestação após a transferência, o que facilita o golpe.

Alguns fraudadores também recorrem a tecnologias avançadas, como deepfakes e clonagem de voz, para simular familiares, amigos ou influenciadores recomendando ofertas inexistentes ou solicitando pagamentos urgentes.

Para se proteger, é fundamental observar sinais de alerta críticos. O primeiro é a URL suspeita: verificar letra por letra, buscando erros de digitação, letras trocadas ou duplicadas e domínios estranhos que fogem do padrão das lojas oficiais. Outro ponto essencial é a segurança do site: páginas legítimas utilizam “https://” e exibem o cadeado na barra de endereços; se esses elementos estiverem ausentes, há risco elevado de fraude.

Preços irrealisticamente baixos também devem levantar suspeita, sobretudo quando ultrapassam 70% ou 80% de desconto, ou estão muito abaixo do valor praticado no mercado. Comparar com outras lojas confiáveis é uma maneira simples de validar a oferta. Além disso, sites sérios sempre exibem informações obrigatórias no rodapé, como CNPJ ou CPF (em caso de MEI), razão social, endereço físico, telefone de atendimento e canais reais de contato. A ausência desses dados costuma indicar falta de credibilidade.

Qual é o objetivo do golpe

Golpes que prometem dinheiro rápido ou recompensas via Pix geralmente capturam dados das vítimas por meio de cadastros ou formulários falsos. Os golpistas criam páginas que imitam sites oficiais e pedem informações como nome, CPF, endereço, telefone e até dados bancários. Ao preencher esses formulários, a vítima fornece dados suficientes para que os criminosos abram contas digitais fraudulentas, solicitem empréstimos, realizem compras indevidas ou até vendam essas informações na dark web.

Além dos formulários, alguns sites maliciosos capturam automaticamente o que a pessoa digita. Mesmo antes de concluir um cadastro, o sistema pode registrar dados de pagamento, informações do navegador, localização aproximada e características do aparelho utilizado. Em golpes mais sofisticados, tudo digitado no site pode ser registrado sem que a vítima perceba.

Em golpes relacionados ao Pix, muitas vezes não é necessário que a pessoa forneça dados bancários completos. Os criminosos criam chaves ou QR Codes falsos e induzem a vítima a fazer um pagamento com a promessa de liberar um valor maior depois, o que nunca acontece. Esses sites costumam ficar no ar apenas por poucos dias, justamente para evitar rastreamento e denúncias

Como se proteger

Para evitar golpes digitais, além de tudo o que já foi dito, a pessoa pode adotar alguns cuidados práticos. Um deles é sempre desconfiar de qualquer oferta com preços muito abaixo do valor de mercado, pois esse tipo de apelo emocional é uma das ferramentas mais usadas por golpistas. Também é importante nunca clicar em links recebidos de desconhecidos e ter muito cuidado quando o link vem de alguém conhecido, já que contas invadidas podem enviar mensagens suspeitas. Ativar a verificação em duas etapas nas principais contas (como WhatsApp, Instagram, e-mail e serviços bancários) ajuda bastante, porque mesmo que alguém descubra a senha, não consegue entrar sem o segundo código.

Outro ponto importante é evitar pesquisar o nome de lojas no Google ou em outros buscadores, já que golpistas compram anúncios com nomes semelhantes aos de empresas reais. É mais seguro digitar o endereço diretamente ou usar o aplicativo oficial. Também vale observar se o site está usando HTTPS, o que aparece como um cadeado ao lado do endereço. Ter HTTPS não garante que um site seja confiável, mas a ausência dele é um sinal claro de que nele não é seguro.

Sobre deepfakes e propagandas falsas com celebridades, a melhor forma de verificar se um famoso realmente fez uma divulgação é ir diretamente às redes oficiais dele. Celebridades normalmente publicam parcerias em seus perfis verificados; se não houver nada lá, a probabilidade de ser falso é muito alta. Também é útil verificar se outras páginas confiáveis de notícias ou de entretenimento mencionam a parceria. Quando apenas um anúncio aleatório aparece nas redes sociais, sem nenhuma confirmação oficial, é quase certo que foi criado sem autorização. Detalhes estranhos em vídeos, como a boca se movendo fora de sincronia, sombras que não combinam ou uma voz com som “plástico”, também são sinais de deepfake. Outra forma de conferir é abrir o perfil do anunciante: golpistas costumam usar páginas recém-criadas, com poucos seguidores e sem histórico.

Quanto ao CNPJ, para pesquisá-lo, a pessoa pode acessar o site da Receita Federal e consultar gratuitamente. Lá é possível verificar se o CNPJ existe, se está ativo e quais são os dados reais da empresa, como o nome oficial e o endereço. Se algo estiver diferente do que aparece no site da loja, é um alerta de golpe. Também é possível procurar o nome da empresa em plataformas como Reclame Aqui e consumidor.gov.br para ver experiências de outras pessoas.

Por fim, o domínio é o “nome” de um site na internet, aquilo que aparece antes do “.com”, “.com.br”, “.org” e assim por diante. Em “www.lojaexemplo.com.br”, o domínio é “lojaexemplo.com.br”. Funciona como o endereço de uma casa: se você digita o endereço errado, vai parar em outro lugar, e é justamente isso que muitos golpistas tentam explorar criando endereços muito parecidos com os verdadeiros. Por isso, é essencial prestar atenção às letras trocadas, números em lugar de letras ou extensões diferentes, porque uma loja legítima poderia usar “.com.br” e o golpista poderia criar “.shop” ou “.store”, por exemplo, para imitar.

A quem denunciar

Vítimas de golpes devem registrar um boletim de ocorrência na Delegacia Virtual do estado, que possui validade legal. Em casos envolvendo compras ou relações de consumo, o Procon pode ser acionado, assim como a plataforma consumidor.gov.br, que permite registrar reclamações diretamente junto às empresas participantes. A Polícia Federal, por meio do Comunica PF, recebe denúncias de golpes de alcance interestadual ou de crimes cibernéticos. Em fraudes financeiras, é importante comunicar imediatamente a instituição bancária e registrar a reclamação no Banco Central, por meio do serviço de demandas do órgão, acessível com login gov.br. Sites suspeitos também podem ser denunciados ao Google Safe Browsing, para serem rapidamente bloqueados, e publicações em plataformas como o Reclame Aqui ajudam a alertar outros consumidores.

Para fazer esses registros, a vítima deve reunir o máximo possível de informações. Dados pessoais, como nome completo, CPF, RG, endereço, telefone e e-mail, são necessários para formalizar o boletim de ocorrência, assim como os dados da conta bancária de origem, quando houver transferência. Também é importante descrever detalhadamente como o golpe ocorreu, informando a data, o horário, o canal utilizado (WhatsApp, ligação, site, redes sociais), o tipo de golpe e como o criminoso se apresentou. Comprovantes e registros são fundamentais para a investigação: prints de conversas, anúncios, perfis, sites, e-mails, áudios, vídeos, links suspeitos, números de telefone e comprovantes de pagamento (PIX, TED, boleto, cartão). Esses elementos ajudam a identificar os criminosos, especialmente números de telefone, chaves PIX, dados bancários do recebedor e URLs utilizadas no golpe.

Também devem ser informados dados financeiros, como o valor perdido, o meio de pagamento, as instituições bancárias envolvidas, os dados ou a chave do recebedor e o identificador da transação, como o E2E ID do PIX, que é especialmente útil para rastrear o fluxo do dinheiro e solicitar o bloqueio cautelar. Qualquer informação sobre o suspeito — nome informado, CNPJ usado, foto de perfil, endereço, placas de veículo ou áudios — também pode auxiliar, mesmo que parte desses dados seja falsa. Em golpes pela internet, informações técnicas, como cabeçalhos completos de e-mails, IPs, domínios e dados de hospedagem, podem ajudar a Polícia Federal em investigações de crimes cibernéticos. Quanto mais dados forem reunidos, maiores serão as chances de identificar os responsáveis e de tentar reaver o valor perdido.

Desconfiou que é golpe? O Comprova pode ajudar a verificar. O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e em aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, eleições e possíveis golpes digitais, e abre verificações para os conteúdos duvidosos que mais viralizam. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais:

O Comprova já explicou diferentes modalidades de golpes digitais, como phishing, engenharia social, clonagem de sites e uso de deepfakes para enganar vítimas. O projeto mostrou como criminosos exploram emoções, senso de urgência e dados pessoais para induzir ações impulsivas, especialmente em situações envolvendo pagamentos por Pix ou ofertas aparentemente vantajosas

O Comprova também revelou como golpistas utilizam vídeos manipulados, biometria falsificada e táticas de engenharia social para burlar sistemas de reconhecimento facial e acessar contas bancárias ou serviços digitais. As verificações apontaram sinais que ajudam a identificar pedidos suspeitos de “validação facial” e destacaram a importância de múltiplas camadas de segurança para evitar esse tipo de fraude.

 

Política

Investigado por: 26/11/2025

Ponte que liga Pará e Tocantins começou a ser construída no governo Bolsonaro

Política
Vídeo nas redes sociais desinforma ao afirmar que Bolsonaro “não conseguiu fazer nada” da construção.

Diferentemente do que alega uma postagem no TikTok, a Ponte de Xambioá, que liga as cidades de Xambioá, no Tocantins, e São Geraldo do Araguaia, no Pará, começou a ser construída em 2020, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — ou seja, a obra não foi completamente realizada no governo Lula (PT). As obras foram concluídas em 2025, e a inauguração da ponte aconteceu em 18 de novembro.

A autorização para início das obras foi assinada ainda em setembro de 2017, no mandato do ex-presidente Michel Temer (MDB). Com a ponte, a expectativa era de grande melhoria na logística da BR-153, principal rota para o escoamento da produção local, caracterizada principalmente pelas atividades da agropecuária, de mineração e serrarias, conforme comunicado do Governo na época.

No entanto, uma das empresas que disputava a licitação conseguiu uma liminar no Supremo Tribunal Federal (STF) que embargou as obras, que só começaram três anos depois, após o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) obter decisão favorável para iniciar a construção.

Então, o governo federal anunciou, em abril de 2020, que assinou novamente a ordem de serviço para começar a construção. Meses depois, em agosto de 2020, o então ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, publicou um vídeo no Facebook mostrando as primeiras estacas da ponte sobre o Rio Araguaia. Já em agosto de 2022, dois anos após o início das construções, como o Comprova publicou em verificação anterior, o DNIT informou que a obra estava 70% executada.

O Comprova também consultou registros do navegador Copernicus, plataforma da União Europeia que monitora o planeta por meio de imagens de satélite e sensores. Elas evidenciam que em setembro de 2019, não havia nenhuma estrutura no Rio Araguaia. Já em dezembro de 2022, último mês do governo de Bolsonaro, a ponte estava em estágio avançado de obras.

 

Além disso, a imagem abaixo da Ponte de Xambioá, registrada em julho de 2022 pelo Google Street View, também indica que a construção estava em andamento.

Outros comunicados do governo federal demonstram o progresso da obra durante o mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em julho de 2023, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência publicou nota afirmando que as construções estavam 87% concluídas. Já em agosto de 2024, segundo o DNIT, a ponte estava 99% pronta. A inauguração aconteceu no último dia 18 de novembro.

O Comprova tentou contato com o governo federal buscando mais informações sobre a construção da ponte, mas não teve retorno.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O perfil em que o conteúdo foi publicado tem 57 mil seguidores e costuma trazer posts favoráveis a Lula e contrários a Bolsonaro e outras figuras da direita brasileira. O autor diz ser nordestino e evangélico e, na descrição de sua página, ele escreve “Eu amo a política mais (sic) odeio a corrupção”.

Em um post com foto de Bolsonaro e os filhos Carlos, Eduardo, Flávio e Renan, ele diz que “eles não trabalham, eles não fazem nada”. Em outro, fala que “a oposição não trabalha” e fica apenas “criticando o governo federal”.

Sobre o post verificado aqui, ele tenta insuflar os seguidores contra Bolsonaro, dizendo que ele não fez nada em seu governo, e a favor de Lula. Na legenda, o autor escreveu “Esse cara é diferenciado, 2026 tmjs (sigla para estamos juntos)”, referindo-se ao presidente e falando em reelegê-lo nas eleições do ano que vem.

Até 25 de novembro, a publicação havia sido compartilhada mais de 22,5 mil vezes e recebido mais de 73,3 mil curtidas. O Comprova tentou entrar em contato com ele, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Por que as pessoas podem ter acreditado

O post recorre ao viés de confirmação, quando torna-se mais fácil a pessoa não duvidar de algo em que ela já acredita. Pessoas que gostam de Lula e não gostam de Bolsonaro, ao se deparar com um conteúdo que chama o ex-presidente de “imbrochável” e “parasita” e o atual de “presidente de verdade”, têm mais facilidade de não questionar se há desinformação ali. Elas automaticamente aceitam o conteúdo como verdadeiro.

Fontes que consultamos: Comunicados do governo federal [1][2][3][4][5][6][7], publicação do Tarcísio de Freitas no Facebook, registros de satélite da plataforma Copernicus e o Google Maps.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e em aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais, e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Como informado acima, o Comprova já verificou outro conteúdo sobre a mesma ponte. Post que viralizou sem julho deste ano dizia o contrário do investigado agora: que Jair Bolsonaro teria construído quase que a ponte inteira e Lula não teria feito nada para finalizar a obra. Em 2023, outros conteúdos semelhantes foram checados e o Comprova concluiu ser falso tanto que a obra teria sido embargada pelo governo Lula quanto que estaria paralisada.

Política

Investigado por: 24/11/2025

Barqueata em Belém foi protesto pacífico por causas climáticas

Política
Manifestantes enviaram recados para Lula, mas, diferentemente do que diz post, ato não representou início de tensão para o presidente.

Diferentemente do que afirma post viral, a barqueata realizada nas águas da Baía do Guajará, em Belém, em 12 de novembro, transcorreu de forma pacífica. O evento, que contou com a participação de mais de 150 embarcações, era programado e marcou a abertura da Cúpula dos Povos, evento paralelo à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30).

O post usa um vídeo verdadeiro do evento, mas exagera ao anunciar uma “treta” envolvendo o presidente Lula (PT). Em um texto de apresentação da barqueata, a Cúpula dos Povos afirmou que seu objetivo era “denunciar falsas soluções climáticas e anunciar que a resposta para um mundo sustentável é o povo das águas, das florestas e das periferias que resiste com suas práticas coletivas, agroecológicas e ancestrais”.

Ao Comprova, a Cúpula dos Povos afirmou que o post é uma “fake news” e que a barqueata, “planejada há mais de um ano”, ocorreu “sem nenhuma intercorrência”. ”A manifestação sobre as águas dos rios amazônicos levou para o mundo mensagens por justiça climática”, disse a organização.

A assessoria da Aliança Chega de Soja, grupo com cerca de 40 organizações unidas contra a expansão da soja na Amazônia e a favor da agroecologia que participou da barqueata, confirmou por telefone não ter havido nenhum episódio de incitação à violência contra Lula ou ao governo federal. “O que existiu foi a manifestação popular chamando a atenção para as demandas dos povos, em um ato totalmente pacífico”, afirmou ao Comprova Daleth Oliveira, assessora da aliança. A embarcação em que ela estava era uma das maiores, com cerca de 500 pessoas a bordo.

Segundo veículos de imprensa, houve protestos dirigidos a Lula, mas em forma de recados. A Folha de S.Paulo noticiou que participantes diziam “Lula, pare com essa insanidade de procurar petróleo na Amazônia” e “Demarcação já”. O UOL publicou que um manifestante afirmou em microfone “Lula, pare com essa insanidade de querer explorar petróleo”.

Em entrevista coletiva de imprensa realizada em um dos barcos que participaram do evento, o cacique Raoni Metuktire criticou obras de infraestrutura na Amazônia realizadas pela União e disse ter pedido a Lula que não aceitasse a exploração de petróleo na região. “Eu vou marcar um encontro com ele, e se precisar, vou puxar a orelha dele pra ele me ouvir”, disse a liderança indígena.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

O post foi publicado por um perfil com 35,3 mil seguidores que se apresenta como “patriota e cristã”. Na descrição do perfil há emojis das bandeiras do Brasil e dos Estados Unidos e a autora diz bloquear pessoas de esquerda.

Dos dez posts mais recentes no X em 16 de novembro, um era favorável a Jair Bolsonaro (PL) e sete eram contrários a Lula e ao PT ou Alexandre de Moraes e o Supremo Tribunal Federal (STF).

O conteúdo verificado aqui aproveita o momento da COP30 para espalhar que Lula enfrentaria problemas graves no evento, que centenas de barcos invadiriam Belém, o que, como afirmado acima, não é verdade. Ao fazer isso, o perfil tenta acirrar a divisão política, como mostram comentários como “Tem todo meu apoio, pra cima desse desgoverno” e “Isso, mostre ao mundo a verdade”.

O post foi visualizado mais de 232,2 mil vezes e recebeu 11 mil curtidas até a publicação deste texto. O Comprova tentou entrar em contato com a autora, mas não houve resposta.

Por que as pessoas podem ter acreditado

Muitos conteúdos de desinformação usam o apelo emocional para prender os internautas e fazer com que eles acreditem naquilo. Ao apelar para as emoções, o desinformador sabe que o público tem menos chance de refletir sobre o assunto ou mesmo de buscar fontes de informação.

Como afirmado acima, o post foi feito por um perfil de direita. Ao publicar um conteúdo contrário a Lula, principal figura da esquerda no Brasil, a autora usa a tática do viés de confirmação: é mais fácil acreditarmos em algo que confirme o que pensamos. Neste caso, quem já não gosta de Lula tem mais chance de achar que o post é verdadeiro.

Fontes que consultamos: Reportagens sobre a barqueata e contato com a Cúpula dos Povos e Aliança Chega de Soja.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e em aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais, e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A Lupa verificou conteúdo semelhante, também classificando-o como desinformação. Recentemente o Comprova investigou outro post mencionando Lula e a COP30, um que mentia ao dizer que o brasileiro teria desmarcado compromisso no evento para impedir suposta delação de Nicolás Maduro.

Notas da comunidade: Não havia notas nas postagens no X até a publicação deste texto.

Política

Investigado por: 19/11/2025

Vídeo de estudante atacando Lula e Alexandre de Moraes usa imagens geradas por IA

Política
Distorções típicas do uso da tecnologia podem ser percebidas a olho nu.

Foi criado com inteligência artificial (IA) um vídeo de um estudante afirmando, em uma entrevista em frente a uma escola, que, para 2026, deseja as prisões do “Nove Dedos” e do “Xandão”, referências ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, respectivamente.

O vídeo apresenta sinais típicos de geração por IA. A imagem mostra diversas distorções, como pessoas ao fundo deslizando ao entrar na suposta escola e letras que se movem na fachada do colégio. Em certo momento, a mão do jovem entrevistado aparece no vídeo com seis dedos distorcidos.

Mesmo concluindo se tratar de um conteúdo criado por IA, o Comprova consultou o programador Pedro Burgos, que confirmou a adulteração. “Os personagens falam rápido para caber todo o roteiro, e o lábio está ligeiramente dessincronizado. O áudio tem uma assinatura sintética, de baixa qualidade, sem sons de fundo ou de vento”, disse.

Após a suposta entrevista, a imagem é cortada para uma apresentadora que aparenta surpresa e, em seguida, pede para cortar os comerciais.

O especialista ressalta que, quando o vídeo mostra a apresentadora, o texto da legenda aparece duplicado, o que reforça a tese de que se trata de um telejornal que não existe. O Comprova localizou um programa chamado “Repórter São Paulo”, da TV Brasil, mas o logotipo não é o mesmo que o do vídeo verificado.

A ferramenta de detecção de IA Hive constatou que a chance de o vídeo ser criado por IA era de 49%. Outras ferramentas, como o InVid, o SynthID e o Deepware, não detectaram o uso de IA.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova

A postagem foi feita no X por um perfil com mais de 72 mil seguidores. Ele faz publicações críticas a Lula e outras figuras da esquerda. A publicação verificada atingiu mais de 8 mil curtidas e 2 mil compartilhamentos. O Comprova tentou contato com o autor da postagem, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

Por que as pessoas podem ter acreditado

A publicação utiliza conteúdo criado por IA que se assemelha com uma entrevista verdadeira. Ela também imita fontes confiáveis, já que as manchetes na parte de baixo tentam simular um telejornal de verdade, o que aumenta a chance das pessoas acreditarem.

A fala do jovem, de ataques a Lula e Alexandre de Moraes, pode ter incentivado pessoas críticas ao governo a compartilharem a publicação, assim como a reação da apresentadora, que ao demonstrar surpresa com o ocorrido, pediu para chamar os comerciais, como se uma representante da imprensa não quisesse que uma fala crítica ao presidente e ao ministro do STF fosse ao ar.

Fontes que consultamos: O especialista Pedro Burgos

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e em aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais, e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já fez outras checagens de vídeos feitos com IA. Um deles afirmava falsamente que Ivete Sangalo teria elogiado Lula; outro, que Preta Gil teria escrito carta a Jair Bolsonaro (PL), o que não ocorreu; e também um que mostrava um artista fazendo uma escultura do ex-presidente, o que tampouco era verdadeiro.

Notas da comunidade: Uma nota da comunidade foi incluída na postagem do X, com o aviso: “O vídeo foi feito com IA. Isso pode ser percebido pelas distorções das pessoas ao fundo”.